segunda-feira, 10 de dezembro de 2007




CÁLCIO E VITAMINA D - VERDADES E MENTIRAS

Quando se pensa em alimentar um filhote de cão ou gato ou um animal em período reprodutivo, a primeira preocupação quase sempre com o cálcio (Ca) e a vitamina D. A suplementação destes nutrientes talvez seja uma das práticas terapêuticas mais utilizadas por médicos veterinários para animais que estejam nestas fases.

Esta suplementa��o, contudo, vem sendo feita sem considerar o enorme volume de informa��es cient�ficas produzidas sobre o metabolismo e as implica��es destes nutrientes � sa�de de c�es e gatos.

Muitos propriet�rios de c�es, principalmente aqueles de filhotes de ra�as grandes e gigantes, desejam suplementar a dieta de seus animais com c�lcio e vitamina D - lembra Jo�o Guilherme Padilha Filho, professor de Cl�nica Cir�rgica de Pequenos Animais, da Unesp, campus de Jaboticabal (SP). Isto n�o s� � desnecess�rio, mas potencialmente perigoso, se a ra��o j� cont�m n�veis adequados desses elementos. “O m�ximo cuidado deve ser tomado para evitar a supersuplementa��o, uma vez que problemas esquel�ticos grav�ssimos, at� irrevers�veis, j� foram relatados em c�es que receberam apenas tr�s vezes as necessidades m�nimas, ou seja, a partir de 3% de Ca na dieta”, ressalta.

Primeiro, o C�lcio - Aulus Cavalieri Carciofi, professor do Departamento de Cl�nica e Cirurgia Veterin�ria da Faculdade de Ci�ncias Agr�rias e Veterin�rias de Jaboticabal - UNESP (SP) ensina que o c�lcio apresenta duas fun��es importantes no organismo: estrutura �ssea e como �on mensageiro ou de regula��o. “Assim, al�m de conferir rigidez aos ossos ele � necess�rio para a contra��o dos m�sculos, coagula��o do sangue, excita��o nervosa, e outros. O organismo controla rigidamente sua concentra��o do sangue, por meio de dois horm�nios”, orienta.

Quando falta c�lcio, numa dieta pobre no nutriente, atua o paratorm�nio, que vai promover a retirada de c�lcio dos ossos para o sangue. Quando a dieta � rica em c�lcio, para evitar que seu n�vel sangu�neo se eleve, entra em a��o a calcitonina, bloqueando a retirada de c�lcio dos ossos. “A necessidade nutricional de c�lcio, tanto para c�es como para gatos, foi estabelecida como sendo 1,0% da ra��o para crescimento e reprodu��o e 0,6% da ra��o para a manuten��o de adultos”, esclarece o pesquisador. “Considerando-se as necessidades em rela��o ao peso vivo do animal, c�es necessitam de 320 mg de c�lcio por kg de peso por dia para crescer e 119 mg por kg por dia quando adultos (conforme dados do NRC)”.

A vez da vitamina D - No caso da vitamina D, suas fun��es s�o aumentar os n�veis de c�lcio e f�sforo no sangue e permitir a mineraliza��o adequada dos ossos. No organismo ela aumenta a efici�ncia de absor��o de c�lcio pelo intestino e participa da forma��o do tecido �sseo. “A necessidade nutricional de vitamina D para gatos � de 750 U.I. por kg de ra��o para crescimento e reprodu��o e 500 U.I. por kg de ra��o para a manuten��o de adultos. Para c�es, a necessidade, tanto para crescimento como reprodu��o, � de 500 U.I. por kg de ra��o”. Segundo Aulus, considerando as necessidades em rela��o ao peso vivo do animal, c�es necessitam de 22 U.I. de vitamina D por kg de peso por dia para crescer e 8 U.I. por kg de peso por dia quando adultos. Desta forma, a absor��o de c�lcio pelo intestino depende da quantidade de c�lcio ingerido e da presen�a de vitamina D. J� a entrada de c�lcio nos ossos depende da presen�a de vitamina D e do sangue possuir uma concentra��o adequada tanto de c�lcio como f�sforo. E, por fim, a sa�da de c�lcio dos ossos para o sangue depende da presen�a de vitamina D, sendo controlada pelo paratorm�nio e pela calcitonina. “Note que n�o existe nenhum horm�nio, ou nutriente,que promova o dep�sito de c�lcio nos ossos, tornando o esqueleto maior ou mais forte. Este � um mecanismo controlado pelo pr�prio osso e determinado geneticamente”, completa Aulus.

Algumas situa��es diet�ticas pr�ticas:

1- C�lcio baixo - o organismo ativa a vitamina D para aumentar a absor��o intestinal de c�lcio. H� libera��o de paratorm�nio que retira c�lcio dos ossos para manter seu n�vel no sangue, pois se o c�lcio sang��neo abaixar o animal ter� problemas na contra��o muscular e excita��o nervosa. Isto leva ao enfraquecimento dos ossos, com entortamento das pernas e fraturas, em uma doen�a chamada hiperparatireoidismo secund�rio nutricional.

Quando isto ocorre? Quando os filhotes s�o alimentados com comida caseira pois os gr�os e as carnes cont�m muito pouco c�lcio. Note, observando seus r�tulos, que as ra��es industrializadas apresentam quantidade de c�lcio bem acima da m�nima exigida.

2- C�lcio elevado - ocorre uma grande absor��o passiva de c�lcio, de modo que o controle sobre a entrada via intestinal ser� quebrado. Com isto existir uma tend�ncia a eleva��o do c�lcio sang��neo. O organismo tenta contornar a situa��o liberando calcitonina, diminuindo a sa�da de c�lcio dos ossos. Com o tempo isto causa aumento da densidade �ssea, interferindo nos processos de crescimento e modelamento normal da forma dos ossos, em um quadro que se chama osteopetrose. Nesta situa��o est�o sob risco grave as ra�as grandes e gigantes, que apresentam predisposi��o gen�tica � problemas �sseos, como labrador, rotweiller, pastor-alem�o, weimaraner, dog-alem�o, e outros. O excesso de Ca, principalmente quando aliado a obesidade, pode provocar grande variedade de patologias. As mais conhecidas s�o o retardo no crescimento e altera��es do desenvolvimento esquel�tico, altera��es articulares como a osteocondrose, al�m da osteodistrofia hipertr�fica, S�ndrome de Wobbler, S�ndrome do R�dio Curvo, etc.

Quando isto ocorre? Quando uma ra��o balanceada � suplementada com mais c�lcio, desbalanceando a dieta do c�o, ou quando as ra��es apresentam n�vel exagerado de c�lcio em sua composi��o. Mas e a suplementa��o durante a gesta��o e lacta��o? C�lcio deve ser suplementado apenas se a f�mea � alimentada com comida caseira, mas n�o se alimentada com ra��o industrializada. Observando as necessidades de c�lcio para reprodu��o - 1% da ra��o - veremos que todas as ra��es j� apresentam c�lcio suficiente. Ao contr�rio do que se pensa, a suplementa��o � ainda contra-indicada durante a gesta��o, n�o devendo ser praticada. O excesso de c�lcio na gesta��o torna os mecanismos hormonais da f�mea “pregui�osos”. Assim, quando ela inicia a produ��o de leite seu organismo n�o consegue se equilibrar e o c�lcio sang��neo abaixa, desencadeando problemas de contra��o dos m�sculos e excita��o nervosa, doen�a denominada ecl�mpsia.

3. Vitamina D baixa - a defici�ncia de vitamina D interfere com a absor��o de c�lcio pelo intestino, levando a uma absor��o insuficiente, e com a deposi��o de c�lcio nos ossos, diminuindo a mineraliza��o �ssea. Isto ir� provocar um aumento de volume das articula��es, dor e enfraquecimento com entortamento dos ossos, em uma doen�a denominada raquitismo.

Quando isto ocorre? Quando os filhotes s�o alimentados com comida caseira a base de cereais. Checando o r�tulo das ra��es industrializadas, v�-se que elas apresentam n�veis de vitamina D acima do m�nimo exigido, n�o sendo necess�ria a suplementa��o.

4. Vitamina D elevada - o organismo perde o controle sobre a absor��o de c�lcio no intestino, ocorrendo uma absor��o excessiva. Para evitar que o c�lcio sang��neo se eleve o organismo libera a calcitonina, que diminui a retirada de c�lcio dos ossos. Isto acarreta aos animais os mesmos problemas encontrados em dietas com c�lcio elevado, predispondo-os a v�rios problemas �sseos. A associa��o de excesso de c�lcio e vitamina D sang��neos faz com que o c�lcio se deposite em locais inadequados, como rins, cora��o, art�rias, m�sculos e nas articula��es, em um processo doloroso, irrevers�vel e que pode levar a s�rias complica��es � sa�de do animal, como insufici�ncia renal e morte.

Quando isto ocorre? Quando uma ra��o industrializada � suplementada com grandes quantidades de vitamina D (acima de 10 vezes a necessidade do animal).

5. Hipervitaminose D - � de ocorr�ncia freq�ente em nosso meio, principalmente em ra�as grandes e gigantes. Ocorre em geral induzida por desconhecimento do assunto por parte de criadores, que no af� de produzir filhotes fortes, vigorosos e campe�es, indicam aos propriet�rios, notadamente �queles que adquirem um filhote pela primeira vez, variados suplementos, muitos deles altamente concentrados em vitamina D. Essa vitamina, por ser lipossol�vel, � armazenada no organismo animal, ao contr�rio das hidrossol�veis (como as vitaminas B e C) que s�o eliminadas pela urina quando em excesso.

Verdades e Mentiras

1) C�es de ra�as grandes necessitam de mais c�lcio do que c�es de ra�as pequenas - MENTIRA -

C�es de ra�as grandes toleram menos o excesso de c�lcio que c�es de ra�as pequenas. O c�lcio de suas dietas deve estar entre 1 e 1,4% da ra��o.

2) C�es de ra�as grandes devem crescer magros, sem excesso de peso ou gordura - VERDADE -

Uma taxa muito acelerada de crescimento e o excesso de gordura e peso corporal predisp�e estes animais a problemas de desenvolvimento �sseo.

3) Durante a gesta��o as necessidades de c�lcio e vitamina D s�o maiores - MENTIRA -

No final da gesta��o as f�meas apresentam um aumento do apetite. Este maior consumo de ra��o j� garante uma maior ingest�o destes nutrientes.

4) C�es sintetizam toda a vitamina D que necessitam se tomarem sol - MENTIRA -

Em um trabalho publicado em 1994 se comprovou que estes animais, mesmo tomando sol, necessitam de vitamina D em suas dietas

5) Uma supernutri��o pode fazer com que meu animal consiga uma maior estatura quando adulto - MENTIRA -

A estatura final do animal � determinada geneticamente. Se recebe alimenta��o insuficiente ele acabar� menor pois n�o conseguir� crescer, mas o inverso n�o ocorre. Se superalimentado durante o crescimento ele estar� mais predisposto a ter v�rios problemas de sa�de

6) Durante a lacta��o as necessidades de c�lcio da f�mea s�o maiores - VERDADE -

O leite � rico em c�lcio, de modo que a f�mea deve receber durante a lacta��o uma ra��o com pelo menos 1,4% de c�lcio

7) Frente a uma alimenta��o caseira, posso suplementar o c�lcio necess�rio com medicamentos injet�veis ou produtos l�quidos via oral - MENTIRA -

Suplementos de c�lcio e vitamina D l�quidos (injet�veis ou via oral) s�o boas fontes de vitamina D mas n�o de c�lcio. O c�lcio � necess�rio em grandes quantidades ao organismo e a �nica maneira de fornec�-lo � com suplementos em p�, que s�o misturados ao alimento

8) Suplementar as ra��es com c�lcio e vitamina D garante melhor nutri��o aos animais - MENTIRA -

Boas ra��es apresentam estes nutrientes j� com ampla margem de seguran�a para o animal. Al�m disso, eles s�o baratos, n�o pesando no custo final do produto. Os desafios da qualidade das ra��es est�o nos ingredientes, n�vel energ�tico e prot�ico e em sua digestibilidade. Se desconfia do produto, ao inv�s de suplement�-lo com isto ou aquilo, � melhor mudar para uma marca de confian�a.